Sendo

Prosa Filosófica inspirada na obra “O Ser e o Tempo” (M. Heidegger)
Texto: Luciane Trevisan Leal


Não sou a dona de mim, mas parte de uma totalidade das coisas, que me divide, e ao mesmo tempo unifica. 
Parte da existência que faz meu ser absoluto desconhecido, oculto, e meu vir-a-ser no tempo o único possível de revelar-se.
Meu movimento no tempo carrega a parte de meu precedente vir-a-ser – do passado –, e meu cedente vir-a-ser – do presente.
É ser absoluto no ser-aqui, presente no exato instante da existência,
que já não é mais o passado, a sentença que acabou de ser escrita.
Seja ele hoje meu ser possível, porque fora outrora o vir-a-ser do passado,
se realiza, acontece, somente na instância de tempo do agora.
São duas feições de mim, unas, inseparáveis.
Minha existência: o mundo imerso no homem de agora, e o homem imerso no mundo imediato.
Meu ser-homem, meu ser-mundo!
Há uma feição minha que não é só minha, mas do mundo circunstancial, instantâneo: o lugar do acontecer da história do ser.
Lugar que é familiaridade, habitat. Um espaço-tempo no qual fui jogada… sem escolha!
É mundo que acontece, aparece… é abertura.
Minha outra feição é a verdade da verdade, precisão nunca vista, imprecisão prevista.
Nada familiar, não factível, nada além do que não é cotidiano.
È indeterminada, oculta no lugar do meu acontecer.
Vem-sendo comigo, mas se cala, não se mostra.
Se retira enfraquecida diante da força da familiaridade do mundo... que também sou eu!
Se abstêm de mostrar-se, não por escolha, mas por ser que o é: o avesso da familiaridade.
É dela que nasce minha angústia, da sutil aparição da ausência de meu habitat costumeiro.
Essa revelação, a presença da ausência do familiar,é tênue. Quase tão imperceptível quanto partículas sub-atômicas.
É uma instância de tempo que de tão pequena, não se contabiliza.
Aparece na quebra do evidente, na ruptura da lógica costumeira, em um repente.
Se mostra no diferente, no estranho que sou e estou.
É imersão absoluta no mundo e em mim: o Dasein constituído e constituinte.
Do meu vir-a-ser que acontece e angustia, meu futuro herdará a lógica edificada.
Será constâncias de acasos ou ainda algumas construções conscientes, mas sempre meras ou grandes... possibilidades.
Sempre possibilidades, que se alinham à minha prosa, e que assumo na direção da extinção das mesmas.
Pois o fim das minhas possibilidades, a plenitude do meu ser, é a finalização do meu ser-aqui.
Meu vir-a-ser, minhas duas faces, de clareza e ocultação, que vão de encontro ao nada!
Meu fim, minha morte, meu acabar de acontecer...
Ao menos no tempo que é do meu conhecimento.

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