Trata-se de outra


Entenda. Eu não sou o que escrevo, não ao menos na vivência do cotidiano fantástico.
O dia pós dia me serve de fuga, quando não mais me sustento no meu enclaustro
Ás vezes afastar-me de mim traz seus benefícios,
na medida em que descanso do meu inteiro, que me causa imensa fadiga.
Se sua demanda é pela pessoa das frases elaboradas e não contidas,
renuncie à essa ideia!
Tiro férias de minha profundidade, na maioria de minhas relações.
Seria insuportável para o outro, o tempo todo de minha inteireza.
A pessoa de seu desejo está na reclusão, no isolamento de seu cárcere privado.
Aquela que vê se contem na necessidade do meio, é outra no inteiro.
Não posso me envaidecer pela sua admiração, já que em realidade me compadeço de sua ilusão.
Pois seu entusiasmo está para muito além de minhas possibilidades de contrapartida.
E o que me resta é me compadecer de sua decepção, no momento que esta certeza vier à tona.

Veja. Meu amor por você será sempre restrito, e incessante aos diversos.
Isso te assusta? Não menos espanto me causa!
Os diversos não são mais que as manifestações que me tiram do chão...
que poderão não ser suas demonstrações de si.
Obviamente que serão, certas vezes, suas afeições.
Outras vezes até as imaturidades que emanam de seu charme.
Mas o que me envolve na totalidade está para muito além do alcance de nossas consciências.
Os enígmas que me cercam são meu lugar de dúvida, e também o refúgio que me encanta.
Um lugar que não é só seu ou meu, mas aldeia de todos.
Tantos e tantos sejam os mistérios menores que me queira apresentar,
estes que pretende construir na tentativa de satisfazer minha ambição pelo desconhecido...
Menor será minha gratidão por esta tentativa que penso infundada.
Nenhum mistério pelo qual queira me conduzir será tão grandioso quanto aquele em que me encontro.

Ouça, você que deseja aquela que se constrói na escrita:
quando eu me permitir meu absoluto escapar, a quase tudo causarei desajustes
Terei menos paixão por você do que pelo pensamento e pela música
Poderei resistir a você, mas nunca resistirei à completude do que me cerca
Terei maior desprezo às exigências sociais que me fizer, que ao desastroso resultado por não segui-las.
Farei maior uso das minhas experiências pessoais e menor questão de suas críticas a elas: construtivas, ou não. 
Darei maior valor ao que construí e às certezas que pretendo desconstruir.
E nunca, veja bem, nunca,
à negação dos meus valores, que você tentará consolidar, porque não serão os seus.

Me permita te chamar de louco se ainda assim quiser o meu outro que lê.
Contente-se com o habitual, do dia a dia, sem promessas de êxtase com novidades infindáveis.
Será seu bem, seu consolo.
Nem eu suporto por tanto tempo, o que ultrapassa o meu ordinário.

Texto: Luciane Trevisan Leal



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