Adapte-se


Invente uma personalidade, se é que isso é possível!
E a transfigure na face, no conjunto que será apresentado.
Ela deve superar o adaptável, para ser de fato, adaptada.
As particulares a ela pertinentes, devem ser cuidadosamente moldadas.
A forma, é aquela aceita, ajustada ao que o entorno percebe como real e legítimo. 
Configure um estilo de vida de acordo com as classificações em vigor,
que por mais múltiplas se apresentem, são na verdade polarizadas em precisão:
Saudável ou doente; bem sucedido ou infeliz;
Informado ou alienado; intelectual ou ignorante;
Hetero ou homo; feminista ou machista;
Trabalhador ou vagabundo; corrupto ou virtuoso…
Se extenso demais a ponderar, na síntese:
Merecedor simplesmente… ou indigno!

Use qualquer aposto ou seu oposto. O que melhor te aprazer!
Considere sempre uma especificidade e seu contrário… e escolha.
Não acredite na versão corrente do tudo válido.
Nela você não cabe e nem vai querer caber.
Na medida em que compreende que igualdade na multiplicidade é domínio da farsa.
Para cada tribo há uma regra, para cada faceta subjetiva uma identidade lapidada.
E por mais prisional que te pareça a sensação do ajuste compulsivo,
é a este cárcere que vai preferir se render.
Porque antes o adestramento de todos, à liberdade de um só.
Antes o comum, ao estranhamento do que te parecerá, o ouvido que não te escuta,
o olhar que não te vê!
Solidão.

Acredite-me quando digo que não há fuga.
Se não for o estranho a controlar tuas habilidades de adequação,
será você mesmo a inspecioná-las, criticar sua eficácia… e punir a própria deformidade.
O tempo é que não será aquele a apaziguar tua dúvida ou padecimento.
Não ele, que funciona como uma ciência exata,
abrigando somente o que cabe num espaço de exatidão factível, quase matemático;
permitindo somente o que se encaixa na geometria perfeita de uma época.
Para quem tenta ser um transeunte errante em sua época, digo!
Não brigue com o tempo!
Porque apesar dele não estar menos a teu favor do que de si próprio
Será sempre a perfeita conjunção das forças que nunca te dará ouvidos.
ADAPTE-SE!

Texto: Luciane Trevisan Leal

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O Grito... que não é pintura


Insegurança, que seja momentânea, parece paródia na boca dos ditos otimistas.
Estes, serelepes, fingem não observar as vidas que se destroçam diante de seus olhos. 
Tão incisivas são as fontes de suas certezas…
E de tão disfarçadamente vibrante sua vivência, aparentam estar incólumes ao acaso.
Isto somente ostentam, claro!
Porque ninguém escapa aos eventos imprecisos do tempo.
São estes os que me dizem: Você? Tão entusiasmada na vivência cotidiana!
E na mesma medida tão desencorajada quando se expressa na escrita?
Aos que respondo: cada um com sua válvula de escape.
Que a minha resistência ao acaso possa ser declarada por esta ferramenta de linguagem.
Assim ao menos, posso me tornar menos incômoda aos que prezo.
Permitirei a eles o direito, diga-se de passagem muito bem vindo, de optar por não me ler!

Todos têm seus momentos de desesperança.
Até nos valemos das possibilidades de atuação no frágil tablado da vida!
Nele, há figurino desenhado para revestir sentimentos que nos permitem conviver.
O cenário é atrativo, penso! Mas tornar a vida uma eterna encenação de postura condigna?
De simulada posição de mediação para com o que não nos convence?
Isso me nego a fazer, ou ao menos tento... e me reservo esse direito!
Poderia descrever aqui as razões para a desesperança, que reitero, são momentâneas… 
Assim como tudo na vida!
O leitor deve estar se perguntando quais são elas. Mas não importa!
Mesmo porque, isto faria desta leitura algo ainda mais chato que o pessimismo implícito.
A cada um já lhe basta seus motivos para não esperar algo.
E a estes “o cada um desconhecido” não importa mesmo…
no que consistem meus profundos e sombrios buracos da não espera no espaço-tempo.

O que fica então é somente a ideia de me comprazer destes.
Os que como eu, não se interessam em ocultar seus momentos de desgosto.
Estes também encontram alguma maneira de gritar aos quatro ventos o grito silencioso. 
Pode estar na leitura, na escrita, no canto, na arte de forma geral…
Pode estar nas horas e horas diárias de trabalho, nas compensações do consumo…sei lá!
No que quer que seja, o que importa?
Sem vitimização, o fato é: o grito se abafa por detrás de alguma coisa…
e está em todo lugar.

Texto: Luciane Trevisan Leal



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