Busca do Sagrado

Cristo

Sensível à indiferença das coisas e pessoas no mundo me perco.
Me perco no pensar e no agir. No falar e no ouvir. Brinco com as palavras enquanto elas zombam de mim, e pra quê?
Quem será possível tocar?
E qual a pergunta que me devo fazer ao querer alcançar quem me lê? A que respostas minhas suposições vão me levar? E será que alguém irá ouvir o que elas têm a dizer?

Onde esta Você a quem outrora tanto requisitei e me apeguei? Em meu íntimo, sei que é a Ti a quem devo recorrer.
A Ti poucos ouviram, seguiram e se espelharam. E os pequenos que o fizeram cada vez mais se apagaram. Se apagaram em meio à ditadura da soberba, da intolerância e indolência. Quase que varridos da face da Terra, estes pequenos não dizem Seu nome aos quatro ventos, como tantos o fazem! Pois só os pequenos para acharem-se grandes em responsabilidade.

Você. Homem de postura impecável e saber imbatível.
Tão somente mais um, entre as tantas divindades em nossa cultura. Mais um dentre os grandes ídolos. Mas não apenas um em meio às multidões dos “divinos”, para os pequenos. No íntimo destes é voz ativa, consciência inata, perfeição metafísica.

Quisera eu voltar a ser como eles, os pequenos.
Pequenos no curso dos acontecimentos mundanos, mas grandes de coração e bem aventurança. Que o significado do Natal sobreponha o mundano em sua disfarçada importância. Que o significado do Natal me leve a crer de novo na única excelência possível. Que assim seja!


Texto: Luciane Trevisan Leal

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A Linguagem da Arte

Fotolia




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A linguagem da arte. Une, aproxima, convence.
O artista evoca e conclama a beleza ou a tristeza.
Musicaliza a dor, o amor. Pinta a guerra e a Paz.
Compõe a fossa e a bossa. Esculpe anjos e demônios.
Expressa até mesmo o impensável,
o não dito com palavras ou gestos.
Desmistifica os deuses, glorifica os santos, entoa cantos.
Atravessa a barreira da alma mais reclusa
Derruba a defesa do espírito mais atemorizado.

A linguagem da arte teatraliza a vida.
Exibe a beleza até do mais profundo dissabor.
Exalta a amizade e a lealdade. Abomina a indiferença
Sugere a virtude no desvario. E do desatino faz poesia.
Dá a escuridão suas variadas formas.
E nos liberta dela, com música e versos.

A linguagem da arte mobiliza e movimenta
Impõe a viagem rumo ao novo
Resgata o passado, cede significado ao presente,
vislumbra o futuro.


O artista declara o que não conseguimos expressar, o faz como ninguém. 

Mas nos inspira, ainda, a fazer a nossa própria arte
E a fazemos com nossas vidas, nos tornando as grandes estrelas do nosso teatro.



Texto: Luciane T

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Permanência: sobre a ótica moral

Juízo Final - Michelangello

Temos enraizado na cultura ocidental uma idéia de permanência, valorização da tradição e forte resistência ao novo. Pode parecer absurdo falar disso dada a maneira que figura a ciência atual, o pensamento contemporâneo e o desenvolvimento da própria tecnologia. No caso desta última, por exemplo. Cada vez mais obsoletos estão as tantas opções de eletrônicos disponíveis, os quais hoje julgamos essenciais à nossa vida. O capitalismo, com sua sociedade de consumo voraz, nos faz reféns da indústria da modernização contínua. Buscamos sempre os modismos. Gostamos, e de certa forma precisamos estar atualizados com as últimas novidades. Então parece estranho falar de resistência ao novo em uma sociedade que busca constantemente estar sincronizada com as últimas tendências. Mas vejamos. Talvez pareça menos controverso se entramos no campo da moral e da ética.
Há uma certa permanência de atitudes que parecem não estar condignas com o contexto atual. De forma a não perder o fio da meada ou me estender demais, cito o caso específico da religião, no que se refere a pensar moral e ética. É sabido que seja qual for a escolhida, a religião em muitos casos não deixa de simbolizar apenas a melhor saída para os conflitos gerados por aquilo que não se compreende bem. De certa forma, uma fuga da realidade, um lugar confortável para vislumbrar o inexplicável. Não falo aqui de espiritualidade, mas da vivência dogmática que a religião busca promover. O que quero dizer é que: ser religioso está longe de significar uma existência espiritual de fato. Dogmas inquestionáveis, regras rígidas e autoritárias sobre a conduta humana, não levam indivíduo nenhum ao auto questionamento, a pensar de maneira transparente sobre sua atuação na sociedade e com seu próximo. O que ocorre é que na busca por atenuar o peso das angústias e dissabores da vida, buscamos “alguém” com quem dividir ou até mesmo entregar definitivamente o fardo que não damos conta de carregar sozinhos. Passamos às vezes a vida fazendo bobagem atrás de bobagem, e esperamos que alguém possa se responsabilizar por elas. Para não repetir as frequentes “falhas de conduta”, nos rendemos à dogmas, e imaginamos que seguir certas regras impostas de comportamento, vai nos fazer pessoas melhores. Ledo engano. Resta a todos assistir de camarote aos fanatismos que levam ao preconceito e a intolerância. De vítimas de uma sociedade confusa, passamos a detentores da mais soberana verdade. Antes julgados, agora juízes. O que de fato ocorre é que somente transferimos nossas falhas de caráter para um outro foco. Nossa conduta continua intransigente frente aos demais. A predisposição a olhar apenas para si, o que nos leva a realizar todas as grandes besteiras no decorrer da vida, não desaparece com a conduta moral dita exemplar, só encontra um outro lugar de morada.
Não só no aspecto religioso, mas em qualquer setor de organização social, isso ocorre com qualquer um que queira subjugar o outro à sua verdade. A permanência, a qual me referi acima, está aí. Desde que o mundo é mundo sempre houveram os subjugados e os donos da verdade. Nos comportamos dessa forma desde sempre. Subjugamos o outro às nossas verdades morais, me parece que mais para exercitar nosso egoísmo – fazendo o outro viver da maneira que achamos justa – do que para expressar um desejo genuíno de uma sociedade mais transparente e altruísta.
A meu ver a única maneira de modificar essa realidade é pela educação. Abertura para o mundo no lidar com as novas formas nas relações. Compreender de maneira mais abrangente a dinâmica das relações na sociedade atual é deixar a inércia de um discurso moralizante ultrapassado. Leitura, informação, construção de um senso crítico que transponha os dogmatismos, é a saída para entender o outro e nós mesmos como atores em nosso tempo. A ignorância nos transforma em seres intransigentes e nos distancia. O conhecimento nos faz mais flexíveis e nos aproxima.

Texto: Luciane Trevisan Leal
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Censurada






Censurada por ter pressa. 

Por não querer ver o tempo passar, 
sem realizar, sem celebrar, sem se impressionar.
Censurada ainda por querer se surpreender. 
Por não querer se modular, por não concordar, 
por não acordar, por não se adaptar.
Censurada por se arriscar. 
Por incorrer no erro e não temer, 
não se conter ou suprimir, não se anular.
Censurada por aqui estar querendo se expressar.
Falar por falar, ou simplesmente não comentar.
Censurada por ter opinião. 
Por não admitir senão, por não consentir com o não. 
Censurada por amar. Na dor, no dissabor,
também na glória e na vitória.
Com tempero, sem gosto e ainda... no desgosto.
Censurada por perder a noção, o limite. 
Por ansiar encontrar aquele em quem se perde. 
Censurada por chorar, se emocionar, acreditar e desacreditar
Censurada por querer viver sem parar, ou parar para se modificar.
Censurada por não querer acordar.

Texto: Luciane Trevisan Leal

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