Acaso no AF 447





Sete crianças mortas, um bebê, um príncipe, um maestro. Recém casados em lua de mel. Um comissário de bordo que veio ao Brasil enterrar o pai. Famílias despedaçadas em questão de poucos minutos. Pensamentos focados num quê de fantástico: um tubo de metal de 130 toneladas voando a uma altitude onde o ar é irrespirável. O Atlântico abaixo de um trem de pouso que nunca desceria. Uma tentativa de pouso forçado que não aconteceria.

Este é o quadro. O triste panorama de uma tragédia. E um prato cheio para as conjecturas da imprensa e a vontade irresistível de se encontrar culpados. Para nós, profissionais da aviação, de ontem ou de hoje, parentes e amigos das vítimas desse mistério trágico, os culpados pouco importam, ao menos por agora. Fica apenas duas perguntas inquietantes: O que aconteceu e por que?

Por mais que saibamos sobre o quanto é seguro viajar de avião, o quanto este maravilhoso invento humano é bem projetado, e por mais que estejamos preparados e bem treinados para a possibilidade de um acidente, muitas vezes não há como fugir e logo, não há como não se chocar com a nossa total incapacidade com o acaso fatal. Uma tragédia no Atlântico em pleno voo de cruzeiro, um evento raríssimo na aviação, marca profundamente pela raridade em si. Mas, para além de ser um acontecimento raro, tornam-se evidentes questões que preferimos ás vezes não ter que pensar: a fragilidade da vida humana é uma delas.

Contraditórios, nós, seres humanos, podemos decidir nunca mais entrar em um avião. Mas fumamos, bebemos, ingerimos os piores tipos de alimentos, nos rendemos ao ócio, ao estresse, nos drogamos. Marchamos a passos largos em um caminho para a morte. Fraqueza ou apenas uma escolha? Não sei! O fato é que nossas vidas não nos são tiradas ao acaso. Escolhemos caminhar no rumo que queremos. Sabemos das consequências de nossas decisões. Não é o caso de nossos entes queridos e amigos em algum lugar do Atlântico. Talvez seja essa a razão para tamanho choque. Por que tragédias como essas acontecem? Por que o acaso ainda insiste em resistir a idéia tão disseminada do livre arbítrio e da livre escolha. E em que limite se encontra a fatalidade, se é que ela não é fim em si mesma.

Costumo dizer que é simples pensar na vida humana tirada ao acaso, na medida em que se pensa que ela pode ser apenas resultado de uma evolução, também na casualidade. Mas é difícil compreender a vida humana como uma criação divina perfeita, cuidadosa, tendo em vista os horrores aos quais ela está submetida. Como explicar, só para exemplificar, a história de recém casados, com planos de vida interrompidos abruptamente, por um problema qualquer em um aparato voador criado por um outro homem. Será que podemos dizer simplesmente: o inventor teve a escolha de criar um avião. Nós temos a escolha de desafiar as leis da gravidade para entrar num destes. E aí a inferência se resolve: tudo se resume à escolha. E está aí um resultado lógico. Ou podemos pensar em um resultado de fé nas “explicações” religiosas para o fato: Tenha fé, por pior que pareça a situação. Acredite que Deus tem suas razões - que devem permanecer desconhecidas - para a morte repentina e inexplicável das pessoas que amamos. E assim colocamos tudo, de novo, nas mãos de Deus.

Esperamos então que Ele nos acompanhe e nos guarde. Que Ele exista e resista em nós. Que possa permanecer anterior a todas nossas dúvidas. Ou ao menos que permita a estes reles mortais descobrir, o que houve de fato.

Texto: Luciane Trevisan Leal

3 comentários:

Iит€я€รรǺитт€ disse...

Òtima postagem !

O melhor é confiarmos em Deus, ele nos deu a vida, sejamos bons na terra e seguimos a sua santa palavra, o depois é com ele, agente só vive, e viveremos bem se sabemos que somos salvos.

Um grande Abraço !

Paz !

Antenor Thomé disse...

Muito bom post!!

Minha primeira visita aqui no seu blog!! Gostei bastantes!!
Parabéns..
Visite meu blog tb: www.muraldoantena.blogspot.com

Um abraço
Antenor Thomé

Erick Figueiredo disse...

Muito bem escrito.

Quanto ao desastre em si, não abalará o medo que tenho de voar (aerofobia). Se pudesse só atenderia clientes onde fosse possível ir de carro. Mas não é.

Assim, procuro acreditar nas palavras proferidas de forma tão bela.

 

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