Poema da Vida Contida


Se passo desapercebida reclamo do engano
de quem não me lê, não me vê, não me crê
Mas sinto tensa a minha postura às avessas
o impacto de um fim que é causa, e também pausa de mim.

Quando venho chegando, me apresentando
me sinto me entregando demais, me mostrando demais… contrariando demais
Minha estrutura incontida me acusa, causa recusa
Incômodo atiça, à tolerância necessária… preguiça

É que com a regra me indisponho, nela me contraponho.
E todos notam minha destemperança, e anotam para cobrança
Ainda assim insisto no confronto com meu tempo, sem calma, mas com alma.
Amando o que me seduz e desprezando o que me reduz

A loucura me vê e bate palma, a normalidade quer resgatar e mata minha alma.
Homens-deuses construídos me dizem e negam, o que meus pedaços mortais contradizem e agregam
Me vejo entre eu e eles, perdida, desiludida. Alguns podem dizer até possuída.
Mas considero demônios que inventam e atacam, verdades que me inflamam e arrematam

A medida dos homens, sua balança, minha compreensão não alcança
E passo pelos vícios, me entregando aos solstícios.. e à suplícios.
Vivendo com medo do corte da vida, do negro da morte, do norte de minha sorte
Negando a paz que minha mente pede e minha incapacidade me impede

Convenções já não me cabem mais, devo dizer, normalidade disfarçada me esvazia o ser.
Então, da enfermidade que pensam me definir, escancaro a ferida. E crio o poema da vida contida
Exercito centralizar o passo, para tentar viver bem… o descompasso
Que tenta se encerrar numa sensação de contínua partida, que me abre ao mundo, mas também me leva ao fundo.

Me fixo então na esperança, da criança, que tudo alcança
Ainda me surpreendo, me compreendo e pouco me repreendo.
Deixo a paixão ainda mover, absorver, e no meu caminho por completo me envolver
Para assim deixar de me conter, não me suspender, e simplesmente viver e ser

Texto: Luciane Trevisan Leal
(Poema com registro de propriedade intelectual)


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4 comentários:

Manoel disse...

Forte e denso poema provavelmente sendo um retrato da sua alma.

Antonio Pereira Apon disse...

Oi LUCIANE.

Gostei. Vivemos repletos de incertas certezas. Versos, reversos, inversos...

Um abração.

EXPEDITO GONÇALVES DIAS disse...

Luciane, o poeta é uma criança. Sempre. E brinca de esconde-esconde, de chicotinho queimado, empina, brinca com as palavras:
"Me fixo então na esperança, da criança, que tudo alcança...
Nunca se contenha, brinque!
Grande abraço, criança!
Luz e Paz, sempre!

Penélope disse...

Pois somos esses esconderes de nós a todos instantes pelo prazer de nos acharmos depois.
As loucuras, bem, elas sempre farão parte de cada um de nós, apenas precisamos tomar o cuidado para não perdermos o equilíbrio.
Um poema bem intenso e sentido.
Um abraço

 

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